Ex-secretária de Estado quer ser a primeira mulher a assumir a Casa Branca
O olhar sereno que sempre esteve por trás do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, nos palanques, esconde uma força crescente. A principal candidata do Partido Democrata para as eleições americanas de 2016, Hillary Clinton, traz consigo uma bagagem significativa — além de primeira-dama, foi também secretária de Estado do governo Obama e senadora por dois mandatos consecutivos. A candidatura de Hillary não apenas tenta provar que ela superou as dificuldades do passado, mas também que pode ser a primeira mulher liderar a maior potência do mundo.
No entanto, apesar da independência que a candidata adquiriu em relação ao marido ao longo dos anos, a grande dúvida que toma conta da cabeça dos eleitores é se um governo Hillary seria um espelho da política Clinton. E essa questão ocorre porque a população dos Estados Unidos não aceita governos estagnados. Ela gosta de mudanças.
O professor de Relações Internacionais da Faculdade Belas Artes, Sidney Leite, acredita que, se eleita, a democrata faria um governo com focos diferentes dos estipulados pelo marido, principalmente em relação à política externa e ao assistencialismo.
 Acho que Hillary terá menos dificuldades que Clinton quando a questão for política interna. Isso porque, quando ele assumiu, em 1993, os Estados Unidos passavam por uma estagnação econômica no que se refere ao desenvolvimento tecnológico. Hoje, o país está ajustado economicamente, iniciando uma recuperação. No entanto, em relação à política externa, ela vai ter que se desdobrar — muito mais do que ele — principalmente em relação ao Estado Islâmico e à guerra civil síria.

Apesar da comparação constante entre ambos os governos, para o professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Heni Ozi Cukier, as vantagens de Hillary em relação ao marido são as bagagens.
 Hillary tem um diferencial: participou da política ativa e inativamente. Foi senadora, o que a fez vivenciá-la na prática. Mas também pôde aprender com os erros e os acertos do marido, que é uma pessoa aclamada nos Estados Unidos e, sobretudo, alguém que entende de mundo.
Segundo o representante do Observatório Político dos Estados Unidos, Geraldo Zahran, ambos os Clintons são democratas moderados em termo de política econômica. No entanto, Hillary, se eleita, dará um foco maior a leis de inclusão de minorias — e vai principalmente estreitar as já existentes relacionadas à violência contra a mulher e a discriminação dos salários.
Postura frente aos conflitos externos
Quando a área analisada é a postura militar, os três professores concordam: Hillary será muito mais assertiva que o atual presidente Barack Obama — mesmo sendo conhecida por assumir uma postura pacificadora no Congresso; quando senadora, durante o governo Bush, a candidata votou contra medidas que pudessem intensificar conflitos com o Iraque e Afeganistão. Segundo Cukier, o posicionamento de Obama frente aos conflitos externos foi fraco.
O idealismo de Obama não condiz com o país que ele governa. Em relação à política externa, ele é considerado um governante fraco. Se assumir, creio que Hillary desempenhará um papel importante para amenizar a situação caótica criada por conflitos em alguns países, uma vez que ela tem uma visão mais realista do mundo. A guerra civil na Síria, a crise de refugiados, a China tomando posturas agressivas e a Coreia do Norte testando bomba de hidrogênio. É inconcebível que nada seja feito para mudar essa realidade que desalinhou o mundo.
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Em relação ao Estado Islâmico, Sidney Leite acredita que Hillary se empenhará no combate ao grupo extremista, até porque essa é uma das bases de sua campanha eleitoral.

 Uma das principais teclas em que a democrata tem insistido em bater é o combate ao Estado Islâmico. Como nos Estados Unidos o primeiro mandato de um presidente é um teste para a população ver se as promessas de campanha estão realmente sendo cumpridas, Hillary não vai poder deixar essa questão de lado. Assim como o tópico das políticas assistencialistas, que ela pretende instalar no país.
Assistencialismo
O Bolsa Família, que é alvo de críticas e elogios no Brasil, é inspirador para a candidata democrata. Hillary teceu elogios ao programa de assistência social brasileiro e afirmou que pretende instalar algo similar nos Estados Unidos. O Brasil não é pioneiro na criação de medidas de combate à desigualdade, diversos países do mundo já contam com ações do tipo. No entanto, para Cukier, nos Estados Unidos esse tipo de política não vai funcionar.
 Os americanos não são favoráveis ao assistencialismo, no geral. Por isso, esse tipo de ideia pode ser um ponto fraco na campanha de Hillary.
O professor Leite concorda que tentar incluir mais uma medida de assistencialismo nos Estados Unidos pode prejudicar a candidata, mas por provocar uma possível ira dos republicanos.
 Hillary é democrata, mas não é tão liberal quanto Sanders, por exemplo. Por isso, acaba atraindo eleitores de ideologias mais conservadoras.
O especialista explica que, com a criação do ‘Bolsa Família americano’, esses eleitores deixariam de apoiar a candidata. Além disso, daria margem para que os republicanos — que são maioria no congresso — tecessem críticas severas a ela.
Contrária a essas afirmações, está a opinião de Zahran, que citou o Snap (Supplemental Nutrition Assistance Program) — programa assistencialista que já existe nos Estados Unidos e ajuda cerca de 40 milhões de americanos de baixa renda a se alimentarem. A diferença entre essa política e o Bolsa Família é que o benefício não pode ser sacado, apenas utilizado em lojas cadastradas — funciona como um “vale alimentação”.
 Os Estados Unidos já têm uma política assistencialista. Acho possível que ela seja ampliada e se torne um ‘Bolsa Família americano’. 
*Texto e apuração de Talyta Vespa