Sim! Sua avó pode ser mais moderna e antenada do que você, colega jornalista. Talvez porque há 50 anos existia um espírito de conquista mais intenso, aquele “se vira, neguinho”, sabe?!
Hoje, quando não tenho heróis ou alguém para me inspirar, olho para o lado e encontro nas minhas avós, bons motivos para ficar animada. Tenho duas bem vivas e com uma disposição de deixar qualquer moleque esbaforido.
Quem pensaria: “uau, quero ser como minha avó”. Parece pouco disruptivo, inovador e até um retrocesso. Mas solte o Whatsapp por cinco minutos e reflita: o que estamos deixando de bom para trás para formar nossa mimada geração Y-Z? Minhas avós parecem levar uma vida muito mais interessante do que eu e outros netos metidos a sabichões da tecnologia.
E o que isso tem a ver com jornalistas? Tudo, caracas. Quantos de nós estão sentados em uma redação agora torcendo para a pauta ser idiota e ir embora mais cedo para casa. Quantos já fazem planos com o dinheiro da possível demissão. Quantos estão velhos de espírito, conservadores, sem ideias e opiniões, completos zumbis de óculos.

Semana passada, entrei na redação de um jornal e fiquei pasma como a energia daquele lugar era desanimadora. A geração 1.0 tem saudade do entusiasmo de antigamente. E a 2.0 está decepcionada com a pouca fama e o salário desgramento. Aaahhh se eu pudesse apresentar minhas avós… Seria até embaraçoso deixar claro o quanto o Jornalismo da grande mídia parece velho, cansado, ranzinza — e sem viagra.
Explico melhor aqui nos meus dois melhores exemplos.
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Nome: Vó Madalena
Idade: 65 anos
Disposição: 30 anos
Trabalho: aposentada, mas continua no serviço público.
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Vó Madalena sempre trabalhou muito. Veio do Mato Grosso para Brasília e passou por maus bocados. Teve seis filhos e uma vida bem dura. Dela, posso colher três lições para jornalistas: proatividade, autonomia e coragem.
Proatividade
Ela tem pouco papo e muita ação. Mora em uma chácara e ama plantar. No último mês, procurou na internet como fazer uma irrigação eficiente para horta. Anotou as instruções, comprou o material, seguiu o tutorial e fez.
E você? Quando foi a sua última atitude proativa? Quando se interessou em aprender algo novo? Cuidado para não ser apenas um jornalista medíocre tentando não levar furo do concorrente.  Qual é sua grande ideia? E por que ainda não colocou em prática? A internet ajuda. 
Autonomia
Há duas definições interessantes para autonomia. 1) Falar com qualquer pessoa de igual para igual 2) Governar-se pelos próprios meios.
Minha avó fez a horta dar certo ao ponto de unir os chacareiros vizinhos, trocarem alimentos orgânicos e distribuírem os extras na feira mais próxima a um preço justo.
A maior parte dos jornalistas da grande mídia costuma ter uma única fonte de renda. PERIGO! Isso significa ser escrava dela. Movimente a economia e pense em como pode ajudar sua comunidade, de verdade, com o Jornalismo. Que tal ensinar a fazer uma rádio web para a garotada do prédio? Ou conversar sobre educação midiática por meio de oficinas? O que dá para fazer, além do que entrevistar o personagem por e-mail?
Seja o protagonista.
Coragem
Minha avó levanta às 4h da manhã para andar 1km e pegar dois ônibus para chegar ao trabalho. Ela ainda sustenta uma filha, dois netos, liga para todos os filhos durante a semana, faz tapetes de crochê sob encomenda e vende ovos caipiras. Sem contar a horta que compartilha e a própria plantação. Uou. Precisa dizer mais?
E você reclama da pauta, do jornal, do passaralho, da assessoria, do editor, do cliente, do café, do plantão, do salário, do freela, do trânsito, do calor, do frio e do(a) namorado(a). Tudo bem. É justo reclamar. O que não dá mais é ficar sem fazer algo para mudar. Mudar exige ações e coragem. Duas coisas que nos faltam, já que estamos acostumados a fazerem tudo por nós.
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Nome: Vó Rita
Idade: 69 anos
Disposição: 45 anos
Trabalho: costureira
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E aqui vão mais três lições da minha outra avó sapeca: diversão, decisão e empreendedorismo…
Diversão
Vó Rita era atriz de teatro no interior do Ceará na década de 50. Ela e os amigos tiravam os poucos móveis da sala, faziam do lençol uma cortina e chamavam o sanfoneiro. Anunciavam nas redondezas que o drama iria começar. O povo se espremia no espaço pequeno para ver a encenação de versos cantados. Ela se vestia de homem e usava até a dentadura do pai para impressionar. Gaitadas faziam a diversão. A regra é: “tem que ser divertido”.
O Jornalismo tradicional colocou a máscara de rabugento. Pouco ri. E quem é mesmo que acorda e pensa: “Uau. Hoje eu vou me divertir no jornal!”? O problema é que sem um ambiente leve, a interação e a criatividade ficam comprometidas. Sem chance de inovação. Tédio. Urg.
Decisão
Além do teatro, ela era apaixonada por costurar. Fazia à mão as roupas miúdas dos 15 irmãos. Namorava a máquina Vigorelli da vizinha até ganhar uma aos 17 anos. Não havia muitas opções de trabalho para minha avó naquela época, mas ela sabia que era a linha e agulha que lhe tiravam o fôlego. Casou-se, veio para Brasília e completou 50 anos de muita costura.
Se o Jornalismo não te tira o fôlego, amigo, cai fora. Ele precisa ser um amante gostoso para dar certo, entende?! Cansei de ver colegas confessarem ter perdido o amor pela profissão. Sei que esse desânimo pode vir da empresa, do chefe e de muitos fatores. Mas é você quem precisa tomar uma decisão do que quer, não eles.
Mas se é o que te dá tesão, investe nesse relacionamento, faz com vontade e “saia da rotina”.
Empreendedorismo
Nesse meio século de costura, vó Rita estava de saco cheio das clientes velhas, chatas e murrinhas. Sempre soube que amava costurar  vestidos de princesa para crianças. “Verônica, coloca aí na internet para vê se alguém se interessa!” Montamos uma página no Facebook (com mais de mil curtidas) e criamos a marca Dona Ritinha. A terceira remessa de vestidinhos foi vendida para pessoas de outros estados. Agora, tem até etiqueta! As máquinas no ateliê nos fundos de casa continuam a todo vapor, mas só trabalham se for para fazer a dona feliz.
Empreender significa realizar. E estamos no melhor momento para arriscar, experimentar. Afinal, temos uma página em branco para o futuro da profissão de jornalista. Significa que podemos ser e fazer o que quisermos. Projeto, ong, blog, canal, podcast, evento, site, consultoria, e-books, jogos e toda produção de conteúdo bacana da qual o mundo tem sede
texto: Verônica Machado
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