Há vinte anos, a fadiga informacional – ocasionada pela capacidade limitada de absorção do homem em contraposição à uma produção crescente, desenfreada e instantânea de informação – já me despertava interesse e, de alguma forma, incômodo.
Mais atual do que nunca, com o avanço das novas tecnologias, o tema sugere, hoje, a discussão de aspectos estruturais da vida contemporânea, sobretudo no que diz respeito ao adoecimento da sociedade, na medida em que filtrar e estabelecer limites para isso é de uma complexidade muitas vezes inatingível.
Para nós que atuamos com Comunicação Empresarial o desafio é ainda maior, uma vez que tudo muda a todo instante, gerando uma esquizofrenia generalizada e uma sensação de incompletude e de pendências.
Embora o elemento estruturante da Comunicação seja o público, uma vez que comunicamos para alguém, os canais, a forma, o timing e a linguagem mudam num ritmo enlouquecido.Como atuar, portanto, para que a tal fadiga não nos consuma? Como filtrar o indispensável? Como estabelecer o limite para não sucumbir ao total desequilíbrio?
Outro dia, recebi uma mensagem via WhatsApp de um cliente às 23h30. Na manhã seguinte, às 8h, eu já estava sendo cobrado pela demanda urgente que “havia sido encaminhada no dia anterior” e que, até então, não estava pronta. É isso: a velocidade e a facilidade de acesso e transmissão da informação têm banalizado a interação com o outro.
E o que fazer com tudo isso? Como resgatar, minimamente, o bom senso? Acho que a resposta está dentro de nós. Começa por nós.
Que o ritmo do mundo, das relações e do alcance dos resultados vai continuar acelerando, não há dúvidas. Mas o que é possível realizar para manter a chama do respeito acesa? Quão conscientes podemos estar em relação à nossa ansiedade? Em que medida o tempo é, realmente, um fator inconteste da eficiência?
Filtrar é um movimento necessário, assim como não se desconectar do propósito maior, que é viver em equilíbrio. Sustentar estas escolhas, diante da pressão que vem de fora, é desafiador. Às vezes, do ponto de vista prático, quase impossível - sobretudo quando observamos panoramicamente todo o processo. Mas pode valer a nossa sanidade mental, emocional e, ainda, a nossa capacidade criativa de se reinventar até que a próxima novidade tecnológica apareça.
Flávio Resende** Jornalista, empresário e coach ontológico.