Empresa
pública emprega 18 pessoas que cumprem regime semiaberto ou domiciliar.
Iniciativa muda a realidade tanto de servidores como de apenado
O
trabalho de resgate, em meio às frutas e verduras que iriam para o
lixo, dos alimentos ainda aptos ao consumo humano e que podem saciar a
fome de pessoas em situação de vulnerabilidade orgulha o homem de 40
anos.
Há seis meses em regime semiaberto, depois de 13 anos de prisão, ele é um dos 18 trabalhadores da Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) ligados à Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap).
A
Ceasa, segundo a fundação, é uma referência em matéria de acolhimento a
reeducandos do sistema penal, aos quais é dedicado o mesmo tratamento
dos demais trabalhadores.
Na
visão de quem busca a ressocialização, a atitude de igualdade faz toda
diferença. “Além do emprego, queremos garantir que eles se sintam
ressocializados. Essa é a nossa preocupação”, resume o chefe de
Manutenção da central, Washington Guimarães.
Os
candidatos são destinados a vagas de acordo com a formação. No caso da
Ceasa, a maior parte deles está lotada no Banco de Alimentos, com oito
funcionários. Os demais estão distribuídos nas áreas de limpeza,
manutenção e administração.
A
iniciativa muda a realidade tanto de servidores como de apenados. “Você
começa a olhar essas pessoas sob nova ótica. Para mim, presidiário era
presidiário e pronto”, pontua Guimarães. “De repente, no trabalho lado a
lado, comecei a entender que eles têm uma história de vida igual à
minha, mas cometeram um erro.”
Trabalho ajuda a mudar comportamento dos detentos
O
chefe conta que muitos chegam ao trabalho com vícios e comportamento
não adequados para o mercado. No entanto, em pouco tempo de convivência,
segundo ele, é perceptível que se tornam mais responsáveis, assíduos e
integrados com o restante da equipe.
O
trabalhador de 40 anos é um dos dispostos a mudar de vida. Quando foi
preso, precisou largar a faculdade de nutrição no quarto semestre.
Agora
ele pretende retomar o curso. “Aqui tenho contato direto com minha
área, com a manipulação de alimentos.” Como ele, vários decidiram voltar
a estudar depois de ingressar no emprego.
Atualmente,
três antigos integrantes do contrato da Funap são funcionários de
empresas terceirizadas, que atendem a Ceasa e continuam trabalhando no
lugar. “Às vezes ficamos sabendo de vagas, pedimos para eles se
capacitarem e fazemos a indicação”, conta o chefe de Manutenção.
De
acordo com o diretor-executivo da Funap, Nery Moreira da Silva, 90% do
projeto é desenvolvido com a parceria de órgãos do governo local.
Atualmente, 1,2 mil presos são beneficiados pela iniciativa.
Eles
não têm vínculo empregatício, mas recebem bolsa no valor de 75% do
salário mínimo, além de vale-transporte e vale-alimentação. O benefício
também inclui remição na pena — a cada três dias trabalhados, eles
diminuem um dia de pena.
Como a empresa pode integrar o projeto da Funap
Para
interessados em ingressar no projeto, o diretor explica que o processo é
simples. Basta procurar a Funap e solicitar trabalhadores para as
funções desejadas. “Hoje temos servidores nas áreas de informática,
administração e tecnologia da informação.”
A
oportunidade vale para órgãos públicos ou privados. O serviço é
prestado com dispensa de licitação, e não é necessário que o empregador
arque com custos de 13° salário e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
Atualmente, 76 órgãos integram o projeto.
Mariana Damasceno, da Agência Brasília
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