Adultos também tem que se adaptar, e confiar, para deixar as crianças na escola sem lágrimas
A primeira semana da Alice, de 1 ano e 4 meses, na escola foi inesquecível. Só que mais para a mãe dela, a vendedora Lauriene Fernandes, de 29 anos. No primeiro dia de aula, a Lauriene ficou o tempo todo com a Alice na sala. Até aí, tudo bem. Mas no segundo dia foi aquela choradeira, das duas. Enquanto a Alice não conseguia ficar sem a mãe, e esticava os bracinhos para ser levada embora dali, a Lauriene teve muita dificuldade para deixar a filha na escola, e saiu chorando pelos corredores, até chegar no carro. E foi embora, aos prantos.
"Foi terrível escutar o choro dela, parecia que eu estava abandonando a minha filha, que ela estava sofrendo, e me sentia culpada. Me questionei se aquele era realmente o melhor momento de colocá-la na escola. Quase voltei atrás dessa decisão", conta Lauriene.

Foram duas semanas de choradeira. A Alice na sala de aula, a Lauriene, no corredor. Filha única, primeira escola da menina e primeira experiência da mãe com a educação da criança. Como adaptar aquela novidade na rotina das duas? Paciência, muita paciência, foi o que recomendou a pedagoga da Escola21, Carmen Oliveira. Ela pôs em prática o plano de ação da instituição para casos como de Lauriene.

“No primeiro dia de aula deixamos os pais ficarem dentro da sala, junto com os filhos. No segundo, eles ficam na escola, porém fora da sala. E também não ficam visíveis para a criança, só são acionados se houver necessidade. Outra estratégia é, se necessário, que a criança vá até o pai ou a mãe, e nunca o contrário. De outra forma, pode fazer com que o aluno desenvolva o hábito de chorar sempre que quiser a presença de um dos pais”, explica.
E se forem os pais os birrentos?

"Aí a gente explica que permanecer na escola pode ser prejudicial para o comportamento da criança”, complementa Carmen.
Assim como tantas outras mulheres, a Lauriene colocou a Alice na escola para poder voltar ao mercado de trabalho e ajudar na renda familiar. A choradeira começou em janeiro, e um mês depois as lágrimas deram lugar aos sorrisos, das duas, inclusive. E como aconteceu?

"Por orientação da Carmen, não fiquei mais na porta da sala, apenas no corredor, e assim ela foi acostumando. Eu ainda chorava porque a ouvia chorar dentro da sala. Mas quando percebi que ela já estava se adaptando à escola, às professoras e aos coleguinhas, tudo ficou melhor. Hoje, quando a deixo na escola ela me dá 'tchau' com as mãos", diverte-se Lauriene.

"O vínculo da criança com a escola deve ser sempre fortalecido, pois é aqui que ela passa boa parte do dia. O segredo está na confiança nos profissionais e no serviço prestado. A família deve conhecer bem o ambiente e as pessoas que lidam com os alunos. Esse é o segredo para que ninguém tenha que sofrer”, conclui Carmen.

A ex-mãe chorona agora incentiva outros pais a tomarem coragem e também passarem por essa experiência:
"Para os pais que tem dúvidas sobre a hora certa de colocar os filhos pela primeira vez na escola, principalmente por terem medo, não fiquem. É um momento delicado, realmente, mas essa adaptação leva um tempo. É bem sofrido no início ouvir o choro do filho achando que está sendo abandonado, mas depois tudo fica bem", tranquiliza Lauriene.

Dicas para controlar o medo e a ansiedade ao deixar os filhos pela primeira vez na escola:
- Quem trabalha fora pode, e deve, se dedicar ao trabalho. As mães que não tem uma ocupação, devem procurar fazer um curso, academia, qualquer coisa para controlar a ansiedade. Ninguém disse que, no começo, o momento de deixar o pequeno não é difícil.
- Estreitar o vínculo com a escola com uma ligação para saber como o filho está também é 'permitido'. Mas a regra vale somente para esse período de adaptação.

- Conversar com outras mães ajuda bastante, pois não ser a única a estar passando por isso é confortante, e, mais importante, saber que essa fase vai passar.
- Converse com a criança sobre a escola e o lado positivo, como fazer novos amigos, crescer, aprender coisas novas, legais e importantes.