Criar uma embalagem qualquer, ‘dar uma cara’ a um produto, é uma atividade artística. O original, quando pronto, é uma obra de arte inquestionável: com mensagem, programação de cores, formas, equilíbrio... Já sofreu todas as críticas. Tudo criteriosamente elaborado por uma equipe de artistas altamente preparados. São programadores visuais de primeira linha.
 Essa obra é multiplicada milhares de vezes por processos mecânicos. É vista e entendida por milhões de pessoas. É consumida juntamente com o produto que envolve. E o que sobra, para onde vai?

 O que é feito com o que sobra da obra? É o luxo que vira lixo num curto espaço de tempo. É como ‘o pôster que não reivindica a posteridade’. São idéias que nascem-morrem-nascem com a mesma pressa das necessidades primárias de sobrevivência humana.
 A pressa passa, mas o lixo fica. Aí se retorna à pergunta: o que fazer com o que sobra da obra? Quase tudo que a humanidade produz, a curto ou médio prazo vira lixo. São toneladas e toneladas de materiais que viram montanhas sintéticas, multiformes e coloridas. Gigantescas obras de arte abstratas, cenários pós-modernos, que contam com a participação intuitiva e racional de todos.

 Artistas práticos contemporâneos estão aí, às voltas com esta nova ordem: reorganizar os inutilizados utilitários modernos. Novas torres de babel surgirão em meio aos lixões. As minerações do século XXI são feitas nas periferias dos grandes centros urbanos. A arquitetura sofre profundas transformações com a reutilização das matérias primas. Surgirão novas ligas químicas para os materiais. Nós seremos diferentes.
 E eu não sou nenhum Nostradamus...

Élton Skartazini - (61) 9908.4963