a boca marcada, a saia rodada", mas com as pernas trêmulas. Ela se apresentou em Portugal na noite passada, onde repetirá a apresentação nesta quinta-feira (30), e dá um pulo nos Estados Unidos em setembro, indo de Albuquerque a Nova York. "Fico amedrontada. Tudo é muito novo para mim", ela revela.

Embora tenha completado 77 anos há duas semanas, a cantora Dona Onete ainda está na flor da idade. Com um carreira profissional de apenas quatro anos, ela caiu nas graças dos gringos e fez um público majoritariamente jovem daqui requebrar com seu dançante "carimbó chamegado". 
O ritmo, criado por ela, mistura lundu africano, o ritmo amazônico do carimbó e a sensualidade latina. Serve também como o remédio para o melindre que as novidades da profissão ainda causam na senhora cantora.
Basta os primeiros aplausos e os gritos de "diva" nas apresentações para ela largar o medo e a cadeira --recomendável nos últimos meses por conta dos bicos de papagaio na coluna e a artrose na perna. Ela logo manda beijos para a plateia e se requebra. Conta que sai do palco com alguns anos a menos. "Parece que a gente fica jovem junto", comenta, ao UOL. "É bom ser amada, não é?"
Carreira tardia
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Com o segundo disco, "Banzeiro" [que significa movimento de ondas agitadas], recém-lançado, ela segue movimentando águas ainda não navegadas, colhendo tardiamente o louro, assim como aconteceu em outras décadas com Cartola e Clementina de Jesu
No caso dela, não foi por falta de incentivo. Nascida em Cachoeira do Ariri, no interior de Belém, ela solta a voz desde que tinha 4 anos. E assim foi: cantarolou em sarais, criou grupos de danças folclóricas e organizou agremiações carnavalescas. Mas preferiu seguir a carreira de professora de História. "Eu tinha medo de não dar dinheiro. Eu ia viver do quê?".
Durante o tempo em que se dedicou às salas de aula e ao gabinete de Cultura do município de Igarapé-Miri (PA), compôs mais de 300 canções às escondidas. Uma dessas letras, "Sonhos de Adolescente", já tem 40 anos e encerra o novo disco com uma declaração de amor a Angela Maria, Cauby Peixoto e Elvis Presley, ídolos que a faziam esquecer da vida de privações.
"Meu primeiro marido tinha um ciúme doentio. Se eu me pintava, ele achava que era para me mostrar para as pessoas. Eu era reprimida no jeito que eu queria ser. Vivia a vida dele, não a minha. O que eu podia fazer era escrever", conta.
Neste mundo particular, ressaltava as lendas do norte do país, mas também deitava a caneta em versos salientes, que faziam o marido pular da cadeira: "Que diabo de música é essa?".
É dessa safra os maiores hits nos shows, "Poder da Sedução" e "Jaburama". Nesta última, ela narra o efeito da erva jambú, conhecida por lá como afrodisíaco feminino, que faz subir, descer, tremer e "chega até o céu da boca". A nova "Proposta Indecente", que mistura iê iê iê com o brega do Pará, é mais dengosa: "Os meus beijos te esperam / Meus abraços também/ Vem correndo, meu bem".
"Escrevo novelas e dá logo uma minissérie. A cabeça vai longe. Eu viajo rápido na maionese", ela explica, aos risos.
Tamanho chamego é inerente do calor de Belém, do perfume local (que ela carrega de um lado para o outro em um garrafa PET de 2 litros) e de outro ingrediente: "Sou geminiana", responde. "O Wando morreu e eu fiquei no lugar dele."