Um brasileiro levou medalha na categoria acima de 80 kg no taekwondo. Algum desavisado pode perguntar se foi Anderson Silva o medalhado.
Não, foi Maicon Andrade, 23 anos, quem levou o bronze na Arena Carioca 3, nos Jogos Olímpicos do Rio. Mas ele e seu técnico entendem que o ex-campeão do UFC de alguma maneira ajudou na conquista.
Anderson Silva, 41, uma das maiores estrelas de todos os tempos do MMA, teve sua base nas artes marciais no taekwondo, modalidade na qual não pratica mais há muitos anos (lutou dos sete aos 17). De 2013 até o ano passado passou a aventar a possibilidade de disputar os Jogos do Rio ao participar das seletivas brasileiras para uma vaga na categoria acima de 80 kg.
Eis que em abril do ano passado, o lutador e a Confederação Brasileira da modalidade (CBTKD) anunciaram que Spider participaria das seletivas. Depois de algumas semanas, a confederação reclamou do sumiço de Anderson, que, via seu empresário, avisou que tinha desistido da intenção. A confederação criticou o comportamento do lutador, já que ele havia manifestado interesse.
Anderson não participou e dificilmente teria condições técnicas para conseguir a vaga. Mas, segundo o estafe de Maicon, a ajuda veio de uma outra maneira: sua visibilidade fez com que a confederação escolhesse essa categoria como uma das que enviaria representantes nos Jogos. Como sede, o Brasil poderia indicar quatro lutadores para a disputa do taekwondo (dois no masculino e dois no feminino). A definição dos nomes cabia à CBTKD, que também é responsável por indicar as categorias desses atletas. A entidade optou pela que seria a de Anderson, mesmo depois de sua saída. Maicon acabou sendo vencedor da seletiva.

“Eu nunca acreditei que isso do Anderson fosse verdade, mas acabou ajudando. Porque abriu vaga pra essa categoria, e se não rolasse essa manifestação dele, talvez tivessem escolhido outra categoria e ele nem estivesse aqui”, falou Reginaldo dos Santos, um dos técnicos de Maicon.
O próprio Maicon diz acreditar que o rumor de Anderson disputar a seletiva ajudou, de alguma forma, que sua categoria acabasse sendo a escolhida. E diz que lutaria com ele na as eliminatórias pela vaga normalmente. O agora medalhista olímpico era o quarto do ranking nacional e acabou ficando com a vaga.
“O taekwondo é aberto para qualquer pessoa, pode estar no MMA, jiu-jitsu, para qualquer um. Se a pessoa se interessar, ela pode entrar. Quando ele disse que ia disputar a vaga, lógico, houve mais visibilidade na modalidade, todos viraram os olhos para nós. Mas ele seria só mais um adversário para mim, não interferiria meu trabalho. Eu entraria para ganhar, assim como acredito que ele também entraria. Uma luta entre eu e ele seria mais uma luta normal, eu estaria sempre em busca do meu resultado. E ele estaria atrás do dele”, falou.
Campanha e histórico
É a segunda vez que um atleta do taekwondo leva a bandeira brasileira ao pódio olímpico. A paranaense Natália Falavigna é a dona da primeira medalha do país, em Pequim-2008. Maicon não estava nos prognósticos de possíveis medalhistas. Ele não consta nem sequer no top 10 do ranking olímpico da Federação Internacional da modalidade.

"Por mais que eu tente te explicar, é uma sensação única. É um sonho. Não tem como explicar como é estar aqui. É um momento único. Por mais que fale palavras bonitas, não tem como descrever", disse Maicon.
Sua campanha para chegar ao pódio foi bastante sinuosa. Andrade estreou com vitória de virada sobre o americano Stephen Lambdin por 9 a 7 nas oitavas de final. Na sequência, nas quartas, perdeu para o nigerino Abdoulrazak Issoufou.
A partir de então, teve de torcer para o seu algoz: caso ele chegasse à final, Maicon voltaria na repescagem, primeiro passo para tentar o terceiro lugar. Issoufou surpreendeu, foi à decisão, e o brasileiro retornou ao tatame. Na primeira repescagem, Andrade não teve dificuldades para bater o francês Bar Diaye por 5 a 2. Na decisão da medalha, saiu atrás, mas recuperou-se embalado pela torcida para escrever seu nome na história.
Fonte: Uol Noticias