As quartas-feiras, Marly Araújo distribui café da manhã aos pacientes
 da Dermatologia do HUB. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB
Último domingo de janeiro marca dia mundial de luta contra a doença. No HUB, grupo formado por pacientes presta assistência e apoio a famílias afetadas.

Quando Marly Araújo trabalhava na Coordenação de Hanseníase da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) não imaginava que, anos mais tarde, ela mesma seria mais um número entre as estatísticas com as quais lidava diariamente. A ironia do destino, como ela define, acabou levando-a além: sete anos após o aparecimento dos primeiros sintomas e três anos depois do diagnóstico, Marly criou, ao lado de outras pacientes, o Grupo de Apoio às Mulheres Atingidas pela Hanseníase (Gamah).

Hoje, o grupo já tem mais de 15 anos de atuação. Algumas atividades continuam acontecendo no local onde foi instituído: o Hospital Universitário de Brasília (HUB). Referência no tratamento da hanseníase, a unidade atende, por mês, cerca de 160 pacientes ligados à doença. São casos encaminhados por equipes e unidades de atenção básica, responsáveis pelo atendimento inicial. O primeiro contato entre paciente e profissional de saúde não acontece no HUB.

 Com relatos milenares de ocorrências – ainda enquanto lepra –, a hanseníase é considerada uma doença negligenciada. Já esteve próxima da erradicação por volta dos anos 2000, mas, em muitos países, ainda é um problema sério. O Brasil é um deles, e só perde para a Índia em número de novos registros.

 Segundo boletim epidemiológico publicado em 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil registrou 25.218 novos casos em 2016 – 12% das ocorrências de todo o mundo: 214.783. A taxa nacional é considerada de alto índice endêmico. Os estados com maior incidência da doença são Mato Grosso, Maranhão e Tocantins.

 Embora o Distrito Federal tenha recebido, em 2005, certificado de eliminação, 162 novos casos foram contabilizados na região em 2017. A informação consta no Relatório de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase da Subsecretaria de Vigilância à Saúde, vinculada à SES-DF.

 Desde 1942, cada último domingo do mês de janeiro é lembrado como Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase. A data é chancelada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e, em 2019, cairá no dia 27. Em 2016, no Brasil, o Ministério da Saúde atribuiu ao mês inteiro como tempo de conscientizar a população sobre a hanseníase: é o Janeiro Roxo, que busca difundir, sobretudo, a informação de que a doença tem cura. 

ASPECTO MÉDICO –
Professor da UnB, Ciro Martins reconhece que há negligência em relação à doença, tanto pela população quanto por profissionais de saúde. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB
Causada pelo bacilo Micobacterium leprae, a hanseníase é uma doença infecciosa de difícil transmissão. “Não é qualquer contato, apenas aquele muito íntimo. É preciso desmitificar esse preconceito de que compartilhar assentos e conversar com a pessoa vai transmitir a doença”, esclarece Ciro Martins Gomes, médico do HUB e professor da Faculdade de Ciências de Saúde (FS) da UnB.


De característica dermatoneurológica, a hanseníase ataca a pele e os nervos. “A qualquer sinal de mancha dormente ou espaçamento dos nervos, deve-se procurar o médico. É preciso estar atento também a todo tratamento para doença de pele que não estiver surtindo efeito”, orienta o especialista.

 Apesar da cura, a doença pode deixar sequelas se tratada de forma tardia. Em geral, o tratamento dura 12 meses e é fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após 15 dias de medicação, já não há mais risco de transmissão, que depende também da carga genética do indivíduo.

 No HUB, a avaliação dos pacientes com hanseníase é realizada por equipe multidisciplinar, envolvendo atualmente medicina, fisioterapia e enfermagem. “Estamos tentando conseguir um odontólogo também. Em função das possíveis sequelas, é muito importante esse acompanhamento integrado”, destaca Ciro Martins.
Fonte: UNB /Noticias