Conquistas recentes melhoraram expectativa de vida mas ainda falta maior conscientização
Em um Brasil que está com dificuldades em lidar com diferenças, principalmente de pensamento, os avanços em relação à Síndrome de Down são um exemplo. Antes, as pessoas com essas características eram muito mais excluídas. Estudavam apenas em escolas especiais e restringiam seu olhar doce e inocente apenas a esses ambientes. Pouco saíam, pouco se comunicavam. Não conseguiam mostrar ao mundo que, em seus corações pulsantes, emergia uma energia vital tão grande como em qualquer ser humano. Com graça. Com sonhos. E, acima de tudo, com direitos.
As conquistas obtidas pelas pessoas com síndrome de Down, principalmente nos últimos 10 anos, vieram para iluminar um lado da sociedade que é capaz, enfim, de olhar o outro, se o seu aspecto sensível e humano for acionado. Isso ocorre cada vez mais, segundo a coordenadora da Fundação síndrome de Down, Carolina Freire de Carvalho, ao falar sobre o Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado neste 21 de março.
A sociedade está mais aberta, com um olhar para essa questão, de forma mais comprensiva, acolhendo mais as diferenças. Hoje se vê pessoas com síndrome de Down em praças, parques, nas escolas, nas sorveterias, nos cinemas, trabalhando, sendo convidadas a festas por amiguinhos. Ainda está longe de dizermos que há uma inclusão total, mas a sociedade está mais atenta e com olhar inclusivo para essa temática.
Quando ela fala em uma distância da inclusão total, muito do que quer dizer se refere à responsabilidade de familiares e das próprias pessoas com Down, que, segundo a coordenadora, também precisam se apropriar melhor de suas conquistas. O preconceito ainda existe e as entidades ficam atentas a situações como a de um menino com Down que, recentemente, foi proibido de brincar em um parquinho de um prédio.
Ainda falta as pessoas com síndrome de Down e os familiares conhecerem melhor seus direitos. Muitas vezes acham que é um favor serem abertas vagas em escolas convencionais, considerando que a escola é amiga, está com boa vontade. E não é favor elas serem incluídas. É preciso ter o conhecimento da lei, dos direitos - beneficiários e civis.
Avanços na lei
Carolina conta que foram criadas as seguintes leis que beneficiaram o segmento nos últimos anos: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que determinou a inclusão dos alunos com síndrome de Down em escolas convencionais; a Lei de Cotas para a Empregabilidade das Pessoas com Deficiência, com orientações específicas e a Lei Brasileira de Inclusão, em vigor desde janeiro deste ano.
Tudo isso está culminando na diminuição das escolas especiais, conforme contou a coordenadora. Neste sentido, a pediatra Ana Cláudia Brandão, especialista em lidar com pacientes com síndrome de Down, do Hospital Albert Einstein, acredita que esse fenômeno tem sido benéfico.
Não existe mais dúvida de que a criança com deficiência, principalmente intelectual, aprende mais em uma escola comum.Tanto que todas as pessoas com dificuldades intelectuais, seja com Down ou não, que chegam a universidades, estudaram em escolas comuns. 
Ela acredita, porém, que a educação especial é muito importante como um suporte para o trabalho em relação a esses alunos na escola comum.
Por lei elas podem estudar nas [escolas] comuns, mas as especiais podem ter um papel de apoio. É importante a participação de profissionais de educação especial na escola comum para que o aprendizado e as estratégias necessáiras possam ser efetivadas.
Maior expectativa de vida
A Síndrome de Down é uma alteração genética, mas não necessariamente hereditária. Ocorre quando o óvulo ou o espermatozóide apresenta 24 cromossomos no lugar de 23. Ao se unir aos 23 da outra célula embrionária, somam 47, gerando a síndrome, cuja ocorrência é de um entre 700 nascimentos. 
Ana Cláudia conta que durante a gravidez são dois os exames que podem detectar a deficiência: de triagem (sangue, ultrassonografia e DNA fetal) e os de diagnóstico definitivo, que são mais invasivos (biópsia de vilo e amniocentese, que colhe tecido embrionário).
Segundo ela, a expectativa de vida das pessoas com Síndrome de Down atualmente chega a 60 anos de idade. Nos anos 80 era de 30 anos e, até meados do século 20, de 20 anos. Mais do que o avanço da medicina, porém, a especialista acredita que a inclusão social foi um fator determinante para essa melhoria.
— Claro que a medicina está sempre avançando. Mas as questões de saúde relativas às pessoas com Down são as mesmas das pessoas sem síndrome de Down. Fazendo esse paralelo, se a evolução da medicina foi igual para todos, por que a expectativa de vida das pessoas com Síndrome de Down dobrou desde os anos 80 e a dos que não têm a síndrome não sofreu aumento tão expressivo? 
Para a pediatra, a explicação é a questão da inclusão social, que se tornou bem mais efetiva nos últimos anos.
Agora eles vivem com suas famílias, são pessoas que estudam, trabalham, têm enormes oportunidades antes negadas a elas, estão com muito mais direitos. Isso melhora a saúde. Nos anos mais recentes certamente foi a questão social que modificou a qualidade de vida das pessoas com síndrome de Down.
Mesmo assim, ela ressalta que as pessoas com Down precisam de um cuidado especial já que, em muitas ocasiões, sofrem alterações na formação do coração ou do intestino, problemas auditivos ou visuais e doenças da tireóide, sendo importante que, desde o nascimento, sejam realizados exames ou avaliações específicas. Com a inclusão, porém, não foram só elas que saíram ganhando, segundo Carolina. Na vida, tudo é uma troca. Quando há afeto, ele paira no ar. E volta em dobro, principalmente vindo de uma pessoa com síndrome de Down que, se tem alguma deficiência intelectual, costuma esbanjar sensibilidade, segundo os próprios especialistas.
Há várias pesquisas que temos em mãos, que demonstram que o clima nas empresas fica bem melhor quando elas têm pessoas com síndrome de Down trabalhando. O ambiente fica mais colaborativo entre todos. As pessoas como um todo desenvolvem outras habilidades sociais e compreendem melhor o outro. Fonte: R7.com

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