Especial Crise Hídrica-Por: Renato Souza
Moradores da região Norte do Distrito Federal sofrem com a falta de gestão dos órgãos públicos em meio a baixa no nível de mananciais que abastecem o consumo de água na região. No Vale do Amanhecer, na região administrativa de Planaltina, a falta de água dura oito dias. Nos demais bairros da cidade, como Estância, Arapoangas, Jardim Roriz e Vila Nossa Senhora de Fátima, os cortes ocorrem sem aviso por parte da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Na região de Sobradinho os cortes no abastecimento duram até 48 horas. Moradores das duas cidades, revoltados com a falta de água, participaram de uma reunião com representantes das administrações regionais, da Caesb e da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa).

O administrador de Planaltina, Vicente Salgueiro, começou o encontro retirando a responsabilidade da administração pela gestão dos serviços públicos. "Essa situação não é de responsabilidade da administração, mas sim da Caesb. Por isso convocamos esse encontro, só não esperávamos tanta gente", alegou. A dona de casa Iraneide Souza, de 62 anos, moradora do Setor Tradicional de Planaltina, reclama da falta de aviso na hora de interromper o fornecimento. "Estou sem água desde sexta-feira. Ninguém estava esperando essa água faltar. Pagamos um carro pipa para encher uma piscina para que seja possível pelo menos tomar banho. Mas já falta água para beber e fazer comida. É um absurdo", reclama a moradora.
VALE DO AMANHECER
O representante da Caesb de Planaltina, Cláudio Ornelas, conta que a água que abastece o bairro está sendo desviada. "Nós fomos na nascente que abastece o Vale do Amanhecer, que está em situação mais crítica. Flagramos canos que estão retirando água ilegalmente. Esses canos são de chacareiros da região". A Polícia Militar informou que o Batalhão Ambiental vai percorrer as nascentes para coibir desvios da água.
RIO PIPIRIPAU
O Rio Pipiripau é a principal fonte de abastecimento de Planaltina e Sobradinho. Moradores da região dizem que caminhões-pipa vão lá todos os dias para captar água. De acordo com a Adasa, essa atividade não é permitida no local. A fiscalização será intensificada.
ABASTECIMENTO
Planaltina e Sobradinho são abastecidas por oito córregos, além do Rio Pipiripau e Mestre D'armas. Os córregos estão com nível de vazão (intensidade da água) bem abaixo do normal, por conta da seca no Distrito Federal. É necessário que moradores e órgãos públicos façam um uso racional da água.
COMUNICAÇÃO
Apesar do problema, a Caesb não possui ainda um plano de comunicação para manter os moradores informados sobre os cortes na região Norte, como ocorre nas demais regiões. A Caesb alega que os córregos baixam muito rápido. No entanto, uma fonte dentro da companhia informou para esta reportagem que isso é sim possível, mesmo que sejam com apenas algumas horas de antecedência. Nem mesmo os veículos de comunicação estão sendo avisados dos cortes com detalhes.
VOLTA DA ÁGUA
A Caesb informou que pretende normalizar nas próximas 48 horas o abastecimento em Planaltina e Sobradinho, para que as pessoas possam encher compartimentos que armazenam água. A recomendação é que todos tenham caixa de água em casa. Não é possível garantir o fornecimento por muito tempo. Mas a empresa promete criar um plano de escalonamento dos bairros afetados, para evitar que a mesma localidade passe dias sem água.
O FUTURO
Provavelmente depois que a crise hídrica deste ano passar, a população e os agentes públicos vão esquecer do problema, até a situação se agravar novamente. Especialistas apontam que é necessário um plano de recuperação e proteção de nascentes, córregos e mananciais, para evitar que sequem. Proteger a Floresta Amazônica também é fundamental. Uma fonte da Caesb informou que é possível que a barragem de Corumbá IV, que será utilizada para abastecer diversas cidades da região Sul e Central do DF seja utilizada para abastecer Planaltina e Sobradinho. Para isso, bastava a Caesb interligar todo o sistema em um só. No entanto, não existe previsão para que isso seja feito.

PERGUNTAS À CAESB
RENATO: Planaltina está incluída no racionamento de água implantado no DF?
CAESB: A Caesb informa que os córregos responsáveis pelo abastecimento das regiões Norte e Sul do Distrito Federal estão apresentando significativa redução de sua vazão, prejudicando a captação de água bruta para tratamento e distribuição para a população. O volume desses córregos tem diminuído expressivamente em função do longo período de seca e altas temperaturas no Distrito Federal e das retiradas excessivas de água das áreas de irrigação.
Em função da indisponibilidade hídrica dos mananciais de captação a Caesb está realizando, como medida temporária, cortes sucessivos no abastecimento de algumas regiões para preservar os níveis de reservação e evitar falta de água em maior proporção. Seguem as regiões afetadas:

· Região Sul: Brazlândia
· Região Norte: Planaltina, Mestre D'Armas, Vale do Amanhecer, Sobradinho I e II.
RENATO: Como se tratam de córregos, e de um rio, é possível prever quando vai faltar água e avisar a população? Por que meio ocorre ou vão ocorrer esses avisos?
CAESB: Não temos cronograma. A Caesb informou os veículos de comunicação na sexta-feira sobre os cortes de água para essas regiões. A informação sobre os cortes está disponível na Central 115 e no sitewww.caesb.df.gov.br
RENATO: Existe uma lógica de desligamento da água nos bairros e um período determinado para os cortes?
CAESB: Estamos dependendo da vazão de captação dos córregos.
RENATO: Existe alguma projeção de por quanto tempo mais a cidade terá água?
CAESB: Estamos dependendo da vazão de captação dos córregos.
RENATO: Existe algum plano de contingência ou projeto para aumentar a captação de água e combater os cortes na cidade ou a Caesb dependerá das condições do tempo?
CAESB: Estamos dependendo da vazão de captação dos córregos.
RENATO: Existe alguma reserva de água destinada para produtores rurais? Ou essas regiões produtoras são abastecidas pelo mesmo sistema da cidade?
CAESB: Áreas rurais não são abastecidas pelo sistema da Caesb. Os produtores rurais captam a água dos córregos antes da Caesb. O órgão responsável pela outorga para retirada de água é a Adasa. Sugerimos que procurem o órgão.

PERGUNTAS À ADASA
RENATO: Existe alguma fiscalização para impedir a retirada de água dos córregos que abastecem a cidade? E no Rio Pipiripau, existe fiscalização?
ADASA: A Adasa fiscaliza a bacia do Pipiripau com frequência e também atende a denúncias da população para verificar possíveis captações ilegais. O canal para enviar as denúncias é a Ouvidoria da Adasa (http://www.adasa.df.gov.br/#modal-ouvidoria)
RENATO: Os caminhões que estão retirando água do Rio Pipiripau são autorizados pela Adasa? Para onde está água vai?
ADASA: Os caminhões-pipa outorgados pela Adasa podem captar água somente nos pontos autorizados.
RENATO: Existe algum plano de contingência ou projeto para aumentar a captação de água e combater os cortes na cidade ou dependerá das condições do tempo?
ADASA: A Caesb é responsável pelo abastecimento de água da cidade e pode dar mais informações sobre as medidas que pretende adotar para manter o serviço, conforme contrato de concessão.
RENATO: Existe alguma reserva de água destinada para produtores rurais? Ou essas regiões produtoras são abastecidas pelo mesmo sistema da cidade?
ADASA: Os produtores rurais usam água diretamente dos córregos, nos horários autorizados pela Adasa (6h às 9h). Em algumas regiões, a população também é abastecida por fio d’água. Em outras, por reservatórios.
Por: Renato Souza. Foto: Andresa Anholete.