Os participantes se encontram toda as segundas-feiras, no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Paranoá (DF)  para  gingar , “duelar” e cantar ao som do tambor, do pandeiro e do berimbau. Um compromisso com a capoeira, manifestação que mistura arte marcial, cultura, dança, e também com o próprio bem-estar. 

Esses movimentos afinados e de celebração contemplam também o tratamento de pessoas com distúrbios da mente. A unidade de saúde pública trabalha, assim, com reinserção social e reabilitação de pessoas com transtorno mental grave e persistente. De acordo com o psicólogo Antônio Carvalho, 31, idealizador do projeto, os pacientes vão até o CAPS para que haja o resgate da socialização e da cidadania.

 “Ao mesmo tempo, é importante que a pessoa não fique apenas internada, que ela esteja no regime aberto e que ela tenha esse trabalho de autonomia, além do trabalho psiquiátrico feito”. O CAPS promoveu, no dia 19 de dezembro, uma oficina de capoeira voltada a pacientes e comunidade da região, que será uma espécie de batizado dos participantes. A oficina terapêutica  realiza um trabalho de reinserção social. 
“Capoeira é o remédio”
Denis Oliveira, 28, participa das atividades do CAPS do Paranoá desde 2013. De acordo com ele, as atividades são importantes para tirar o remédio do organismo e permitir a comunicação do corpo. “O remédio me deixava duro demais, já a capoeira amolece e o corpo fala através da capoeira. Ajuda a minha mente porque eu tinha dificuldade de dançar e a capoeira é uma dança. Na capoeira a gente pode cantar, falar, que é a mesma coisa que ler um texto em voz alta. Mas falar de corpo inteiro, um estudo de corpo inteiro”. Além disso, Denis destacou a importância da  capoeira para se socializar e fazer amigos.

“Eu quero ficar mais forte trabalhando duro e, por enquanto, eu consigo isso só na capoeira mesmo”.

Segundo ele, Denis antes de participar das atividades, era o que estudava para concurso público e para o vestibular com o corpo atrofiado e dormente. Mas desde que as aulas de capoeira começaram a ser ministradas no centro administrativo do Paranoá, as segunda-feiras ganharam um  novo valor para ele. “Eu acordo, troco de roupa e escovo os dentes, já pensando que hoje tem capoeira. Eu tenho uma certa ansiedade para vir para cá. Eu espero o dia inteiro para vir para cá”. 

Além da capoeira, Denis também participa do teatro e cinema, nas sextas-feiras. Segundo ele, é outra atividade que deixa o corpo falar. “A capoeira é a ginga e o teatro é espelho, gestos”.  Ele conta que se tivessem outras atividades ele frequentaria o CAPS mais dias na semana, porém, por falta de recursos, algumas atividades foram cortadas, como é o caso das aulas de argila.
O projeto

O psicólogo Antônio Carvalho explicou que a capoeira é feita na Administração do Paranoá e não no CAPS para que os participantes tenham um contato maior com a população da comunidade. O projeto da capoeira foi idealizado por ele, que é também  professor da arte marcial no grupo Beribazu. Carvalho conta que já há alguns anos ele tinha feito esse trabalho com pacientes suspensivo grave em outras instituições. “Comecei esse trabalho aqui no CAPs do Paranoá faz quatro anos e a ideia é fazer tanto uma atividade que trouxesse trabalho de reabilitação psicossocial, como uma coisa que fosse prazerosa para todos”. 
 
De acordo com ele, é importante que o trabalho com a população do Paranoá não seja apenas para cumprir um protocolo, mas também algo que proporcione o envolvimento com os pacientes né numa relação horizontal. ” É fundamental que não tenha tanta essa hierarquia de terapeuta, psicólogo, médico e paciente, mas que tem uma relação de convivência”.

 Segundo Antônio, por meio da capoeira, foi possível levar aprendizagem à comunidade. “A gente vai trabalhando, por meio desse aprendizado, a capoeira da cultura, da música, do jogo do corpo e também uma forma de resgate da cidadania”. Ele explicou que muitos pacientes não estão lá como um doente mental, mas também como uma pessoa que já viveu muitos preconceitos estigmas. “Aqui eles estão como capoeirista”.

“As  atividades culturais e artísticas do CAPS tem  uma importância muito grande, pois proporciona trabalho de geração de renda trabalho de psicoterapia de grupo tem vários trabalhos feitos.  Esse trabalho de arte cultura ele tem o seu lugar tanto no trabalho do resgate da cidadania da ressocialização e do contato da dos pacientes com a comunidade.”

Para que não seja apenas uma oficina da saúde mental, os participantes organizaram um batizado que ocorrerá no dia 19 de dezembro.  “Conseguimos organizar graças a um financiamento coletivo em um site virtual. Com o batizado eles vão participar do grupo de capoeira Beribazu”.

Por Larissa Calixto e Mariana Fraga
Imagens vídeo de Raony Gomes
Fotos Larissa Calixto
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira