Segundo psicanalista, quem pensa em suicídio tem mudanças no comportamento que podem ser notadas por quem está ao seu redor
Uma pessoa se mata a cada 40 segundos no mundo. Movida por esse e outros dados alarmantes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reservou o dia de hoje, 10 de setembro, para deitar luzes sobre a prevenção do suicídio. Reconhecer os sinais de alguém que corre o risco, entender o problema e buscar a maneira correta de acolher e ajudar são passos fundamentais para reduzir esse dado.  

Quem pensa em suicídio emite sinais?
O senso comum ainda diz que “quem pensa em se matar não avisa”. Para a maioria dos casos, porém, esse pensamento está errado. A psicanalista Simone Vasconcelos, do grupo Rebrotar Psicologias, afirma que embora possam parecer confusos ou dúbios, “existem alguns sinais que indicam a ideia de suicídio e nem sempre têm os transtornos psiquiátricos como um fato isolado”. A profissional listou alguns deles, que merecem atenção imediata: 

✔ Tristeza persistente, seguida da falta de crença em uma melhora
O sentimento de desesperança talvez seja o alerta mais visível no discurso de quem pensa em suicídio. Frases como “não vale à pena viver” e indícios de “cansaço” da vida não devem ser interpretados como chantagem emocional , mas um pedido de ajuda . É importante observar há quanto tempo a pessoa demonstra esse pensamento e se há outras causas visíveis por trás deles, como uma dificuldade pontual ou frustração recente. 

✔ Discurso que oscila entre querer viver e querer morrer
Dificilmente alguém deseja realmente a morte. O que acontece é a necessidade de encerrar um episódio doloroso da vida, a vontade de “sumir” causada por um sentimento de desesperança sobre a melhora. Assim, é comum que mesmo as pessoas que pensam em suicídio - depressivas ou não - tragam um comportamento que vai de um extremo a outro. É importante não olhar para o extremo positivo como, necessariamente, um sinal de melhora. 

✔ Falta de planos para o futuro 
Evitar fazer planos para um futuro - distante ou próximo - também pode ser um alarme de que a pessoa pode considerar o suicídio. De acordo com Simone, o comportamento pode indicar um “corte de vínculos” com a vida e é importante questioná-lo. 

✔ Estar passando por dificuldades pontuais com sofrimento intenso
Fatores que podem estremecer qualquer pessoa, algumas dificuldades são capazes de criar um padrão de pensamento suicida ou depressivo . Desemprego, fim de relacionamento e bullying estão entre os episódios listados pela profissional como alvo de atenção imediata.

✔ Estar socialmente vulnerável ou sujeito à discriminação
De acordo com o psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho, autor do canal Conversa Psi no Youtube,  “muitas das pessoas que chegam a cometer o suicídio já ocupam um lugar de certa invisibilidade social, o que faz passar despercebido”. A população carcerária e pessoas em situação de rua estão entre os os mais atingidos .

Também merecem atenção grupos discriminados como LGBTQ+, negros e indígenas . Nesses casos, o auxílio e inclusão social são fundamentais. “No modo como a nossa sociedade está organizada há que se reconhecer que algumas vidas são muito mais difíceis de serem vividas do que outras”, pontua o profissional.

✔ Busca por isolamento e sono excessivo
A falta de vontade de interagir com outras pessoas e realizar atividades simples, até mesmo aquelas que costumavam ser prazerosas, pode ser um indício de depressão ou comportamento suicida. O sono excessivo também pode ser um sinal, principalmente quando interfere no cotidiano. Nesse caso, é importante prestar atenção naquele colega de trabalho que começou a ter atrasos injustificados, por exemplo. 
Como eu posso oferecer ajuda a alguém que considera o suicídio? 
Antes de tudo, é importante destacar que, embora o suicídio possa ser motivado por diferentes causas - psiquiátricas, psicológicas ou sociais - dificilmente ele provém de uma única fonte ou gatilho. Assim, por maior que seja o suporte recebido pela pessoa que pensa em se matar, a atuação de um profissional de saúde não deve ser subestimada. Algumas dicas, porém, podem reforçar o suporte.

✔ Fale sobre o assunto 
De acordo com Simone Vasconcelos, o primeiro passo para ajudar é retirar o estigma sobre o assunto. “Falar não é um risco para o ato. Ao contrário, é  através da fala que a pessoa em sofrimento tem a oportunidade de ressignificar o que está sentindo e se voltar para a solução do problema”, afirma a profissional. 

✔ Respeite a dor e autonomia do outro
Ao falar, porém, é importante ter alguns cuidados . Para Ronaldo Coelho, “antes de tudo é importante se perguntar se o direito de escolha desse ente querido será respeitado por você ou não. Se a resposta for não, talvez fique difícil dar qualquer outra orientação, pois a conversa já se inicia de maneira a deslegitimar o sofrimento da pessoa”, diz.

Esse respeito não significa afastar-se de quem precisa de ajuda, mas estar aberto a escutar sem preconceitos e evitar que a pessoa se feche. “Desse modo, qualquer ajuda deve levar em conta como o ente querido deseja ser ajudado. Ele é quem deve orientar você em como você pode ajudá-lo”, completa Ronaldo. 

✔ Se mostre disponível para ajudar ou fazer companhia
Principalmente nos casos em que o amigo ou familiar busca se isolar, é importante mostrar-se disponível para estar junto em atividades simples, como assistir TV ou fazer uma caminhada. Assim, a quebra no padrão de isolamento pode reavivar um olhar positivo sobre a vida e diminuir o sentimento de desamparo da pessoa suicida. 

✔  Certifique-se que a pessoa não possui meios para se matar
Se você a pessoa dá sinais de risco imediato, o mais importante é não deixá-la sozinha. De acordo com  orientação publicada pelo Ministério da Saúde, o melhor a ser feito nesses casos é “procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entrar em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa”. Se a pessoa vive com você, o Ministério também reforça a importância de assegurar-se que ela não tenha acesso a “meios para provocar a própria morte, como armas de fogo, pesticidas ou medicamentos” em casa. 

✔ Reforce a importância dos profissionais de saúde 
Apesar de existirem formas de oferecer ajuda, a orientação mais importante continua sendo a de fazer com que a pessoa que alimenta pensamentos suicidas encontre um profissional habilitado para ajudá-la. Oferecer alternativas gratuitas ou companhia para a primeira consulta pode ser eficaz.

Além disso, o psicanalista Ronaldo Coelho reforça a importância de retirar o tabu sobre as psicoterapias. “ Há um desconhecimento a respeito do próprio processo: as pessoas acreditam que o terapeuta vai dizer o que a pessoa deve ou não fazer, como quem orienta e decide pelo paciente”, diz. 

Você precisa de ajuda? 
Em São Paulo, existem instituições especializadas na prevenção do suicídio  - que oferecem auxílio psicológico , terapias e plantões psiquiátricos para todas as idades e de graça. No infográfico abaixo é possível saber mais informações sobre esses espaços e como agendar uma consulta. 

Praça Roosevelt, Centro, SPCOLETIVO PSICANÁLISE NA PRAÇA ROOSEVELTNão exige agendamento, basta aguardar na fila facebook.com/psicanalisenapracaroosevelt 

clinicaabertaroosevelt@gmail.com

R. Condessa de São Joaquim 277, Bela Vista, SP
Formulário do Google CASAUM centrocasaum@gmail.com 
casaum.org

Fonte: iG @ https://saude.ig.com.br/2019-09-10/dia-mundial-da-prevencao-do-suicidio-saiba-reconhecer-e-ajudar.html