A maioria dos brasileiros sentiu no bolso a inflação de 2021. Os 10,06% de aumento geral nos preços se refletiu nos alimentos do dia a dia, no combustível, na luz, no aluguel… 

Especialmente as famílias com menor renda tiveram que fazer malabarismo com as contas para conseguir se virar, e muita gente acabou se endividando. Se 10% já fazem um estrago no orçamento, imagine como seria a vida se a inflação do país estivesse em 1.782%? Apesar de parecer uma realidade distante, isso realmente aconteceu no Brasil, em 1989. E a situação da economia brasileira já estava bastante complicada mesmo antes desse pico.

Mas como o país chegou a esse ponto? Como saímos dessa? E o mais importante: é possível que a hiperinflação volte? Na newsletter de hoje, a gente te conta um pouco da história da hiperinflação no Brasil.

Descontrole que não acabava mais 

Um passado pela frente. Segundo um trabalho da FGV, as condições para a hiperinflação geralmente aconteciam em países assolados por guerras, como aconteceu na Alemanha, entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial. Mas, por aqui, os erros de gestão foram tão devastadores quanto um conflito armado. No começo dos anos 1960, a economia já não estava lá muito bem. Em 1964, a taxa de inflação batia os 90% ao ano.

Torneiras abertas. Na década de 1970, o gasto público foi estratosférico com diversas obras do governo, e o endividamento externo acompanhou. De acordo com um artigo de um núcleo de pesquisas da UFRJ, esses empréstimos estrangeiros eram baseados em juros flutuantes, ou seja, que variam de acordo com as condições econômicas. O boom do petróleo. O problema é que o preço do petróleo subiu muito em determinados momentos da década de 70, gerando um reajuste global. Além disso, os Estados Unidos elevaram a taxa de juros, melhorando as condições para que investidores colocassem seu dinheiro lá em vez de investir aqui. Isso levou a uma fuga de capital do Brasil.

Dívida sobre dívida. Pensando em melhorar as condições para os investimentos e para ficar mais competitivo exportar nossos produtos, a moeda da época foi desvalorizada em 30%. Se a moeda local desvalorizou 30%, nossas super dívidas no exterior aumentaram na mesma proporção, certo? Foi o que aconteceu.

A década perdida. Sem crédito. Uma sequência de planos econômicos falhos fez com que o FMI (Fundo Monetário Internacional) cortasse os empréstimos ao Brasil por medo de calote. Para tentar conseguir dinheiro, o governo fez empréstimos com investidores a juros altos e que cresciam vinculados à inflação. Outro erro gravíssimo. Endividamento a rodo. A dívida interna saltou para 50% do PIB, e piorou ainda mais os prazos para pagamento. Segundo os pesquisadores, isso mostra como o país estava sem crédito, e a economia totalmente travada.

Fiscais do povo. Para tentar segurar a inflação veio o Plano Cruzado, que cortou três zeros do Cruzeiro e congelou os preços. Os estabelecimentos precisavam seguir uma tabela, e as pessoas podiam até fiscalizar e denunciar se o valor estivesse acima dela. Deu uma segurada por um tempo, mas não resolveu o problema da dívida pública, e tudo voltou a piorar rápido. Verão com trovoadas. Depois, com o Plano Verão, voltaram as taxas de juros ainda mais altas, o risco de calote da dívida pública cresceu, e todas as ideias fracassaram. A chamada indexação dos preços, a prática de vincular os valores de produtos e serviços ao índice passado da inflação, também já não conseguia impedir a alta.

Hiperinflação a mil. O preço das coisas seguia aumentando dia após dia, e as medidas para tentar segurar os saltos já não davam mais certo. Foi aí que a economia perdeu sua última sustentação e a inflação explodiu. O Plano Collor, em seguida, também falhou, e só agravou a situação com o famoso congelamento das poupanças, em que as pessoas ficaram impedidas de usar suas economias.

Como saímos dessa? Ordem na casa. Segundo o núcleo de Economia da UFRJ, alguns fatores contribuíram para isso, como a renegociação da dívida externa e o crescimento do PIB. Foi criada uma unidade de medida chamada URV, ou Unidade Real de Valor, que servia de parâmetro para a economia e era atrelada ao dólar. Com isso, mesmo que os preços estivessem em Cruzados, eles seguiam a tabela fixa da URV. Era o embrião do nosso real de hoje. Responsabilidade fiscal. Um fator importante para o controle total da economia foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que começou a valer para obrigar gestores públicos a fazerem um bom uso do dinheiro e tomar medidas mais responsáveis.

Corremos o risco dela voltar? Como deu pra notar, a hiperinflação não acontece do dia pra noite e nem por um motivo único. Em uma entrevista à revista Veja, em 2021, o economista Edmar Bacha, que foi um dos criadores do Plano Real, apontou uma diferença importante: na época, antes da bomba estourar de vez, era aceitável conviver com inflação alta. Hoje, pelo contrário, a norma é combatê-la. Estabilidade é tudo. A economia de um país é viva, então não dá pra cravar que nunca mais vai acontecer. É possível, sim, que isso volte a ser uma realidade. Mas a estabilidade é fundamental para qualquer país que quer crescer e receber investimentos. Assim, aquele passado tenebroso vai ficando cada vez mais distante.

Com Informações do Portal Nubanck