Dança-teatro transforma peças usadas em arte e provoca reflexões sobre consumo, meio ambiente e o futuro do planeta.

No deserto do Atacama, no Chile, um mar de roupas descartadas cobre a paisagem — mais de 39 mil toneladas de peças abandonadas todos os anos, vindas da indústria da moda global. Esse cenário de colapso ambiental e consumo desenfreado inspira uma das cenas mais potentes de FIM, espetáculo de dança-teatro em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB Brasília) até 2 de novembro. Idealizado por Juana Rondon e Bárbara Campos, o trabalho reflete sobre o esgotamento do planeta, do corpo e das relações humanas, em diálogo com o livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak.

 

Em cena, o descarte vira manifesto: os figurinos são compostos por roupas usadas, reconstruídas por meio da técnica de upcycling, que transforma resíduos têxteis em novas criações. A estética da peça sugere que a sustentabilidade também pode ser gesto artístico e ético. Parte do repertório do Núcleo de Pesquisa da Cena – KOH, FIM propõe uma experiência sensorial que convida o público a repensar consumo, tempo e convivência dentro e fora do palco.

Em quatro cenas — quatro fins —, o espetáculo atravessa o cotidiano e suas repetições, o lixo que se acumula, a ansiedade que consome e o isolamento que separa. O corpo em cena torna-se veículo de resistência e reinvenção, convidando o público a refletir sobre o que permanece e o que precisa mudar para que novos começos sejam possíveis.


 As sessões de sábado contam com interpretação em Libras e a equipe realizará um debate no final da apresentação do dia 1º de novembro. Os ingressos, para as apresentações, o debate e a oficina, poderão ser retirados no site bb.com.br/cultura ou na bilheteria.


 OFICINAS AMPLIAM O DIÁLOGO COM O PÚBLICO

Como parte da programação paralela, o público poderá participar de duas oficinas gratuitas, que ampliam as discussões propostas em cena. No dia 25 de outubro, primeiro sábado da temporada no CCBB Brasília, às 14h30, será realizada uma Introdução à Cultura Ballroom, conduzida pela OA Princess Ciel Onijá, que apresentará fundamentos dessa expressão performática e política. Já no dia 1º de novembro, também no sábado, às 14h30, Juana Rondon e Bárbara Campos comandam a oficina A Cena: Oralidade em Movimento, que propõe um mergulho nas relações entre corpo, voz e presença. Ambas as atividades contarão com intérprete de Libras.


NÚCLEO DE PESQUISA DA CENA – KOH: ARTE, CORPO E TEMPO

O espetáculo FIM é fruto de uma pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa da Cena – KOH, fundado por Juana Rondon em 2017. O grupo atua na intersecção entre dança, teatro e tecnologia, explorando as relações entre corpo, sociedade e temporalidade. Ao longo dos anos, o KOH consolidou-se como um espaço de criação e investigação artística voltado a provocar experiências sensoriais e reflexivas sobre o mundo contemporâneo.


Em FIM, a pesquisa estética e filosófica do núcleo se manifesta em cada gesto: o figurino combina elementos naturais e resíduos têxteis em um exercício de upcycling, a cenografia é mutante e a trilha sonora reúne artistas de diferentes linguagens, reforçando o caráter coletivo e experimental do projeto. Informações: @nucleodepesquisadacena